Hoje li um
texto muito bom da Ruth Manus. Nele, ela falava de uma galera incrível que se
permite viver com pouco e abrir mão de grandes carreiras em prol da felicidade
(link aqui). Segundo ela, é a “geração
que encontrou o sucesso no pedido de demissão”, carpe diem e blábláblá. O que é
muito bonito e tudo mais. Quando a gente lê que aquele amigo dela largou
comércio exterior pra trabalhar num hostel até bate a ansiedade, né? Uma
vontadezinha absurda de fazer o mesmo. De parar de faturar pra multinacional,
viajar o mundo passando perrengue em albergue, de ser criativo, aplaudir o pôr
do sol, viver das coisas que a natureza dá e todo aquele papo de humanas que
conhecemos e, claro, adoramos.
Mas sinceramente, pra mim, a ideia
de que, diferente dos nossos pais (que encontraram um modelo de sucesso na
carreira, e seus pais, por sua vez, na família), nós percebemos que o sucesso
profissional não garante sensação de missão cumprida, é balela das
grandes. Não porque, de fato, ela garanta. Mas porque é de uma pretensão
imensurável acreditar que todos podemos – e devemos – viver de gratidão ao
universo: abrir mão daquele emprego que te ajuda a sustentar uma casa em razão
desse sonho de hippie urbano que não tem hora pra acordar.
Mais que isso, as palavras da Ruth
me trouxeram a clareza de que somos muito deslumbrados e, especialmente,
privilegiados. Acredito que seja muito fácil pra mim abrir mão do meu emprego hoje
(em comparação com a realidade de outros milhões de brasileiros). Tenho o
suporte financeiro da minha vó. Até da minha irmã, se precisar. Mas esse é o
papo da menina branca de classe média, entende? Assim como a Ruth, eu adoraria
viver dos meus textos. Entreter as pessoas, fazer mochilão, sair do escritório
e ser extremamente mais feliz. Mas, no momento em que vivemos, é possível se
dar esse luxo?
E olha que não tô aqui criticando
quem faz, hein?! É lindo ver quem larga tudo e vai fazer hambúrguer (até porque
eu adoro hambúrguer), quem decide mudar de país pra trabalhar de babá ou viver
de artesanato. Eu acho digníssimo e, sinceramente, admiro quem pode e consegue.
Imagino que exija força de vontade e coragem inigualáveis. Também não acredito
que devamos ser escravos das nossas obrigações, que devamos esquecer e enterrar
nossas paixões por conta de um salário. Mas vamos concordar que a utopia
do Carpe Diem não é pra todo mundo como os textos que vemos pela internet fazem
parecer? Que a propaganda do "largue tudo e vá viajar" não condiz com
a realidade do brasileiro médio?
Vou dar um exemplo prático. Tenho
uma amiga maravilhosa, a Michelle. Mulher, negra, sempre estudou em escola pública
e trabalhou. Hoje tem duas faculdades e uma pós graduação na USP. A mina é
genial. De verdade. Coisa de deixar a gente pensando “nossa, quando crescer eu
quero ser que nem ela”. Ela trabalha com turismo, que é uma coisa que ela
gosta, mas está longe de ser o ideal. São longas horas, muita correria e pouco
salário. Garanto pra vocês que a vontade dela era largar a porra toda e viajar
o mundo. Garanto também que quando ela lê o texto da Ruth ela pensa: “por que
não eu?”. Ela merece fazer o que ama? Merece muito. Ela pode? De jeito nenhum.
Ela tem uma família que depende exclusivamente das rendas dela e da sua
irmã. Se elas não estiverem lá trabalhando, quem paga o mercado?
Então, meus amigos, muito além da
admiração que eu tenho por quem cria coragem e vai fazer o que gosta, eu admiro
quem fica por necessidade. Eu admiro quem aguenta a porrada todos os dias, quem
faz o impossível e abre mão de muita regalia pra prover. Se eu tivesse que
escolher um exemplo a ser seguido, eu certamente escolheria a Michelle.
Acho que faltam textos para parabenizar as Michelles por aí. Que, muito
além de qualquer vida perfeita de instagram, carregam SIM o sentimento de
missão cumprida.
A vida como ela é...abdicar de seus sonhos em prol da família, realidade de muitos, inclusive a minha. Queira fazer letras, fiz Direito... Só uma das escolhas que fiz na vida.
ResponderExcluirTemos que fazer escolhas todos os dias. Só não podemos romantizar o "largar tudo" e condenar quem fica porque precisa. Obrigada pela visita! <3
ExcluirAdimiro tanto vc Alê! Tao novinha e com umas ideias tao bacanas. Onde da like?
ResponderExcluirMuito obrigada pela gentileza e apoio de sempre, Sam! S2
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