domingo, 18 de setembro de 2016

ALGUMAS VERDADES SOBRE A CIRURGIA BARIÁTRICA (PARTE III)

Olá, pessoas. Abaixo a última parte da série de textos sobre cirurgia bariátrica. Caso tenham alguma dúvida, crítica ou queiram conversar a respeito, é só deixar um comentário aqui que eu respondo tão logo quanto possível. Aproveito também pra agradecer o carinho de todos que ~me lêem~, hahaha, é um prazer enorme poder compartilhar partes da minha vida com vocês. Dito isso, vamos às últimas verdades:

1)      AS MOTIVAÇÕES PARA TER FEITO A BARIÁTRICA

Outro tópico extremamente sensível: mas, Alessandra, por que você fez bariátrica se era tão feliz gorda? Mores, deixa eu explicar uma coisinha: eu seria feliz de qualquer jeito. Não tenho tempo pra ser infeliz. Minha motivação não é e nunca foi estética, até porque pressupor que eu me achava feia gorda seria uma mentira. Quem me conhece sabe que eu tenho vários probleminhas de saúde adquiridos com o passar dos anos e que, nesse caso, o peso era fator crucial para minha melhora ou piora. Alguns destes são fruto da minha má alimentação, outros da genética e outros por muita falta de sorte mesmo.  Sempre fui muito ativa quando nova, então conseguia manter meu peso numa boa (apesar da pré-diabetes constante). Depois que me mudei pra São Paulo e caí de um ônibus em 2011 (hahaha, sim, isso aconteceu) e rompi  os ligamentos do tornozelo, comecei a ganhar cada vez mais peso. Eu comia a mesma coisa, mas não perdia pois não conseguia me exercitar por conta da dor. Chegou uma hora em que não tinha mais pra onde fugir, sabe? Meu manequim só aumentava, meu tornozelo estava cada dia mais sobrecarregado, adquiri uma hérnia de disco por conta da obesidade, meus hábitos alimentares em consonância com o sedentarismo me fizeram desenvolver esteatose hepática (a famosa gordura no fígado), uma gastrite bem tensa e o resto é lenda. Apenas isso me persuadiu a pensar na possibilidade, depois de anos fazendo dieta e tomando remédios (tanto pra emagrecer quanto pra dor). Entendo quem encare a bariátrica por conta da pressão estética, mas não apoio. Isso porque, como verão mais adiante, emagrecer não vai resolver todos os seus problemas.

2)      MANTENHA DISTÂNCIA: GRUPOS SOBRE CIRURGIA BARIÁTRICA

Eu sempre tive sérios problemas com ansiedade. De ficar com dor de cabeça, enjoada, sem dormir por dias pensando numa entrevista de emprego ou uma capinha de celular que ainda não chegou. Juro, sou bem dessas. Durante o período pré-operatório, no qual você faz uma caralhada de exames (não tô brincando, a lista é ridícula de grande e até tirei férias pra conseguir fazer todos a tempo), eu comecei a tomar remédios pra dormir de tão pilhada que estava. Era a pressão pessoal, a do trabalho, todos os compromissos, a vontade de fazer logo, de ver o resultado... Achei que quando finalmente operasse isso ia passar. E não passou. Não passou porque transferi toda essa energia pra pirar na meta imposta pelo médico de porcentagem de perda de peso. E ficar olhando grupo de operados no facebook  durante todo esse período só piorava tudo isso. Tem gente lá que perde 30kg em 2 meses. Tem gente que perde isso em um ano. É normal. Temos até dois anos para perder tudo o que precisamos, depois dá uma estacionada. Mas você quer ser que nem aquele que perdeu rápido, né? É óbvio. Você passa por um puta processo traumático, começa a ver as mudanças, perde um monte de roupa, não come direito... Cadê esse peso todo indo embora e estabilizando pra você poder compras umas brusinha? Quando você finalmente vai chegar na meta e ficar que nem o coleguinha do grupo? Não tem conselho neste tópico, na real. Só um desabafo. Eu passava mal olhando as postagens, os antes e depois (que muitas vezes são deprimentes e mostram as pessoas gordas em situações horríveis), abominava os tópicos sobre quem perdeu mais peso em menos tempo ou aqueles sobre quem come mais e continua magro... Pra mim era um ambiente tóxico, onde rolava muita briga, muita gente sendo repreendida quando tinha dúvidas. Acho que, no fim, em vez de ajudar, esses grupos só alimentam a ansiedade e o desespero de quem operou ou vai operar. Por isso, se puderem, fiquem longe. Consultem os médicos de vocês para as dúvidas e NÃO SE COMPAREM (nota pra mim mesma, inclusive). Cada pessoa reage de um jeito ao procedimento. Façam tudo direitinho e os resultados vão vir naturalmente.

3)      EMAGRECER NÃO RESOLVE TODOS OS SEUS PROBLEMAS

Acho que esse tópico entra como um resumo de tudo o que eu quis passar pra vocês com esses textos sobre como o procedimento funciona. Quem é gordo sabe que nem só de alegrias é feita nossa vida e que enfrentamos abusos, humilhações e ataques constantes de todos os lados. Mas, feliz ou infelizmente, não é emagrecendo 50kg que tudo vai embora, que a vida vira eternas férias de verão com música de pegação ao fundo e você começa a viver em Malhação 2005 (vagabanda is over!!!). Seu trabalho, seus amigos, seus ex, seus pais e especialmente suas escolhas continuam lá, assombrando ou alegrando seus dias. A treta é que passamos anos centralizando todos os nossos problemas em sermos gordos, porque fomos ensinados assim. Eu, por exemplo, demorei uma vida pra entender que a frase “quando eu perder 10kg vou conseguir ser feliz” é extremamente problemática e funciona apenas como desculpa esfarrapada pra não viver. Você vai estar mais magro, ok. Pode ser que fique mais disposto, PODE SER também que sua autoestima melhore e você se sinta mais alegre. Pode ser. No entanto, tudo o que você é, tem e passou vai continuar contigo. E bariátrica nenhuma resolve os problemas que você tem com você mesmo. Se você se achava feio, vai continuar se achando feio. Se você não tinha amor próprio, vai continuar não tendo. E o mesmo vale se você era um babaca gordo, porque você vai continuar sendo um babaca. Só que menos macio.