segunda-feira, 22 de agosto de 2016

ALGUMAS VERDADES SOBRE A CIRURGIA BARIÁTRICA (PARTE I)

Como todos vocês já estão cansados de saber, (quase) sempre fui gorda. E não me venham com esse papo de que eu era “gordinha”/”fofinha”. O termo “gordo” não é ofensa e não precisamos de diminutivos pra suavizar seu significado. Foram muitos anos de trabalho e reflexão até eu não ter mais vergonha de mim mesma. O amor próprio e a admiração pelo corpo gordo (que, como vocês também sabem, é rechaçado e alvo de desprezo desde sempre) também não vieram do nada. Mas isso é história pra outro dia.

O que queria falar pra vocês é que, no começo deste ano, resolvi que ia me submeter à cirurgia bariátrica por diversos motivos (que mencionarei a seguir). E assim como muitas outras decisões da minha vida, essa eu tomei ouvindo relatos de terceiros sobre o procedimento: li muito a respeito do lado bom e do ruim. E cá estou eu pra falar algumas verdades que, mesmo após extensa pesquisa, ninguém me disse, mas que eu considero essenciais pra quem está pensando na possibilidade.

Aproveito também para deixar claro que não estou aqui para desencorajar ninguém. Quero apenas dividir a minha experiência e opiniões sobre um procedimento que é vendido, muitas vezes, como remédio pra tudo, como se fosse algo simples, corriqueiro. Estejam avisados: não é.  

1)      BARIÁTRICA NÃO É O JEITO MAIS FÁCIL DE EMAGRECER

Ah, esse foi o absurdo que mais ouvi por aí. Muita gente falando que, ao escolher o procedimento cirúrgico, estamos optando pelo jeito mais fácil de emagrecer. Afinal, é “definitivo” (bem entre aspas mesmo, viu?!) e está longe de ser doloroso como ~fechar a boca~ e tampouco necessita da famosa (e tão irônica) ~força de vontade~. E aí, meus amigos, eu lhes digo: tomar uma decisão dessa exige mais que força de vontade. Imaginem deixar alguém cortar fora (ou grampear, como foi o meu caso) o estômago de vocês, pra minimizar problemas atuais e futuros (pressupondo que você não está fazendo por estética). Mais que isso: imaginem mudar a vida, os hábitos e lidar com as vontades e todos os obstáculos que um procedimento invasivo desses impõe. A intervenção cirúrgica ajuda, mas não resolve nada se você não seguir a dieta, não fizer acompanhamento, tomar os remédios, realizar 500 exames...  E lidar com isso física e psicologicamente é muito mais difícil que entrar em uma academia.

2)      VOCÊ VAI SENTIR DOR POR UM BOM TEMPO

E já adianto: a dor começa logo depois que você percebe que tá viva. A cirurgia é curta, dura uma hora/uma hora e meia caso não haja complicações. Aí você acorda no centro cirúrgico com o abdome totalmente inflado, com muita dor no corpo e dificuldade pra respirar (por conta dos sedativos). Algumas horinhas depois vão te levar pro quarto. Você, na maior ilusão da sua vida, acha que vai ficar deitadinha descansando. Afinal, você acabou de passar por uma cirurgia, né? Te cortaram toda, gente. Provavelmente algum enfermeiro vai vir te dar a má notícia: você não pode deitar na cama. Para que os gases que usaram pra inflar seu abdome na cirurgia saiam de você, é necessário que caminhe. O esquema é assim: 40 minutos caminhando pelo corredor (eventualmente vai rolar um trânsito com os carrinhos de soro) e 40 “descansando”, outro termo que devemos usar com cuidado e entre muitas aspas. Ninguém descansa em hospital após a bariátrica. Esses 40 minutos de relaxamento, na verdade, servem pra você tomar medicação, fazer os exercícios respiratórios, talvez um xixi (o que pode dar um trabalho do cacete) e a fisioterapia. Essa rotina deliciosa vai geralmente até às 22h30 e começa de novo às 06h30, quando o médico passa pra perguntar se tá tudo bem e sugere que você saia da cama e volte a se exercitar.

Depois dessa temporada agradabilíssima no hospital (e aproveito aqui pra agradecer todos os familiares, enfermeiros e médicos que cuidaram de mim e tiveram uma paciência absurda), você finalmente recebe alta pra ir pra casa. O que pode demorar a manhã inteira (e talvez seja interessante ficar amiga da enfermeira e dar uma cobradinha pra ser liberada logo). Acredite: você nunca quis tanto sua cama na vida. E quando você estiver no conforto do seu lar, achando que tudo vai melhorar... Adivinhe? Vai continuar com dor. No meu caso, foi pouco mais de um mês pra não sentir mais o gás carbônico pressionando meus órgãos. Isso varia muito, mas eu dei azar. Deitar em qualquer posição era bem incômodo, tomar banho foi cansativo (e é importante ter sempre alguém de olho, já que você fica fraco e pode cair sua pressão) e aquela sopa vira um pesadelo depois de alguns dias. E digo mais: as duas semanas que eles te deram de afastamento talvez não sejam suficientes. É complicado ficar sentado durante tanto tempo no trabalho, é exaustivo subir dois degraus no começo e bem chato ter que tomar chá de cinco em cinco minutos quando se está resolvendo algo por telefone. Mas passa, miga. Fica tranquila. Hoje, no meu terceiro mês de operada, confesso que até esqueço que fiz.

3)      NÃO MASTIGAR PODE SER UMA TORTURA

Acho que, muito além das dores do procedimento, a definição de sofrimento pra mim foi não poder mastigar. Normalmente as pessoas que não passaram por isso não entendem e pode soar como exagero, inclusive. Mas, pensa bem, gente: estamos acostumados a mastigar o tempo todo. Temos esse montão de dente pra comer carne com ousadia e alegria. Aí cê faz bariátrica e fica vinte e um dias tomando água e outros sete engolindo papinha. Você quer morrer. Você quer mastigar a sua irmã. Você sente saudades da crocância até do alface. Tinha dias em que eu me iludia e mastigava a sopa. E o que eu fiz pra não ficar tão pirada nesse período foi morder gelo. A gelatina também dava uma boa aliviada, porque era a coisa mais firme que eu ingeria no começo.  Outra boa notícia: essa fase também passa. Mas, mais uma vez: não é fácil. 

7 comentários:

  1. É não existe vitória sem batalha...sofre agora e sorri depois...vc foi forte e continuará sendo e vai colher coisas boa..concerteza o esforço valeu e valerá apena .....parabéns

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    1. Oi, Mari! Nós duas somos e eu bem sei porque te acompanho, mesmo que de longe. Muito obrigada por tudo. Um beijão pra você e pra mamãe.

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    1. Oi, Anna Lu! Você também fez? Conta mais! :D
      Obrigada pela visita!

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  3. Seus textos são sempre maravilhosos. E preciso agradecer você por dividir essa experiência, porque muitas de nós gordas, precisamos encarar os fatos de como realmente é cada um dos lados dessa decisão. E confesso que não parece ser nada fácil, mas ainda parece ser a única forma para algumas de nós. Não por preguiça ou falta de vontade, mas por condições que talvez só alguns médicos conseguiriam explicar. Meu corpo não reage mais as dietas, hoje o sobrepeso afeta além do emocional... Muitas pessoas não entendem isso. Meu corpo não suporta mais meu peso e está prejudicando minha coluna, joelhos e articulações... Fora todos os riscos que nós obesos sofremos. Enfim, parabéns pela sua coragem. Que você possa agora desfrutar da parte boa. Estarei sempre na torcida por seu sucesso. Bjs no coração.

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    1. Oi, Mi! Obrigada pela gentileza de sempre. Achei importante dividir, porque ninguém me avisou de certas coisas, sabe? Muito do que eu vou escrever aqui deveria pesar na escolha das pessoas e teria pesado na minha caso eu soubesse da realidade. O que não podemos fazer é achar que a bariátrica é obrigação pra todo mundo que quer, mas não consegue emagrecer. Vejo muito disso hoje e acho apenas triste. Entendo você completamente, fiz porque não poderia continuar ganhando peso sem conseguir me exercitar por causa dos diversos problemas adquiridos ao longo dos anos... Você pensa em fazer? Se sim, me chama pra gente conversar! Sucesso pra gente :)
      Beijão

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  4. Muito bom o texto, sou um magrelo que não imagino como seja passar por isso mas como tudo q a Lê escreve é sempre muito interessante não podia ficar sem ler e da sempre pra tirar algo de bom pra gente. Beijos Alê, espero que ja esteja recuperada, não faço idéia de quanto tempo dura o processo.

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